Logo ela que tinha uma paixão surpreendente pelas suas longas madeixas.
Quando cortei o meu, no ano passado, ela me disse que JAMAIS cortaria seu cabelo pra ficar curtinho. "Não combina comigo!".
Mas, ela cortou.
Não. Ela não ser quis diferente. Ou ao menos quis adentrar à vitrine da moda-dos -cabelos-curtos.
A mudança de estética foi por um motivo sublime.
A gente não sabe o que é problema, quando a gente não passa.
A gente só julga os outros, quando nunca passamos por nenhum julgamento.
Só conseguimos chorar com os outros, quando, um dia, derramamos nossos punhados de pesares e sentimos que doeu.
Só consgeuimos cortar nosso lindo e perfeito cabelo, quando a gente sente, pelo menos um pouco, a dor de quem não os têm, ou melhor, jamais os terá de novo.
Rebeca deu o seu bonito cabelo, no último domingo, porque sentiu e chorou a angústia das mulheres ribeirinhas escalpeladas da Amazônia. Mulheres como nós, que lutam, trabalham e se esforçam para sobreviver. E tudo na vida tem um preço. O delas é perder o cabelo, às vezes, as orelhas, os olhos e toda a pele que reveste o couro cabeludo. Ao sair de suas humildes casas, adentram um barco, cujo motor se encontra no centro dele. Vítimas da falta de proteção -barata e simples-dese motor, seus longos fios são simplesmente sugados.
É tão forte que algumas delas até morrem. Se sobrevivem, elas continuam a morrer posteriormente pelo descaso, pela baixo auto-estima, pelo desprezo, pela aparência deplorável, por saberem que nada muda e que suas companheiras têm destino decretado, já que ser transportada por estes veículos é a sua (leia bem) única maneira de sobrevivência. Elas vivem e morrem, todos os dias.
A comoção não é nada diante disso. Criar um dia, no ano (28 de agosto), para o combate a esta tragédia diária não é suficiente. Conceder passe livre não dirime os transtornos.
A gente não deve somente cortar o cabelo, mas a nossa própria alma.
O que Rebeca fez me deu um sentimento profundo. Um idealismo que a gente não pode parar nunca de ter. Uma revisão de vida. Um olhar sobre o mundo. Mas, não o meu.
E sim, o daqueles que sofrem, que morrem, que vivem, que nascem à espera de ação e não de discursos.
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Os longos cabelos de Rebeca.. |
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Agora de frente |
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Por amor às ribeirinhas |