quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Kel.

Eu não queria escrever nada sobre esse assunto.


Há um tempão, venho relutando contra essa minha (não) vontade de escrever sobre ela.
Mas, hoje eu acordei e me dei conta de que é 2 de dezembro.
Eu não posso desprezar o fato que falar dela e lembrar desse dia é, sobretudo, escrever sobre a vida.
Melhor, escrever sobre milagres.

Eu não perdi a Kel.
Eu a ganhei de novo.

Eu era apenas uma criança, mas conheci a Kel, adulta, decidida, dona de si mesma e sempre pronta a tudo.
Nossos caminhos ficaram em comum, quando acordei numa segunda-feira e vi, pela janela do meu quarto, uma figura diferente na minha casa. Era Kel. Triste. Decepcionada. Ferida, mas pronta para seguir em frente, como sempre fez. Nesse tempo, a vi chorar, sorrir, brigar, esbravejar, dar conselhos, amar, gastar, cantar, dançar, sonhar. Presenciei a alegria do seu noivado. A realização de trabalhar na Coca-Cola. As suas lágrimas initerruptas por algumas frustações. E a expectativa do seu casamento. Lembro-me do dia em que ele foi embora. À tarde, olhei aquele quarto vazio e chorei. Um misto de dever cumprido e de perda me fizeram exultar. As fotos daquele dia traduzem a felicidade de todos nós, quando finalmente, ela estaria com o Bruno. E com o coração latejando, eu estava lá, quando o Jefferson chorou pela primeira vez.

E sempre estivemos juntas. A diferença de idade não impediu que fôssemos irmãs, mais chegadas que amigas.

Com ela, eu não tinha vergonha de chorar, de assumir meus erros e fraquezas. Ela apenas me olhava, às vezes, me abraçava e, muitas, com seu jeito peculiar, me dava uma verdadeira sacudida pra olhar pra vida.

Mas, um sábado de sol se transformou em chumbo, de uma hora para outra.
"Klemilda teve um traumatismo craniano".

Como alguém poderia imaginar? Sem nem prestar atenção na roupa em que eu estava vestindo, pela primeira vez, a vi, sem ação, naquela U.T.I. Parada. Quieta. Imóvel. Impotente. Um golpe de fé precisaria encher meu coração naquela hora, mas isso não aconteceu.
Os dias seguintes eram tenebrosos. A conhecida força de viver batia tão forte nela, que mesmo em coma induzido, os médicos não entendiam o aumento de pressão intercraniana que nos alucinava.
Uma operação. Duas. A próxima,ela não aguentaria. A costumeira frieza da medicina prejulgou sua vida por algumas seis horas. O hospital, de repente, lotou de tanta gente. Não queríamos perdê-la. Era muito forte. Muito louco. Era tudo. Ou nada. 

Operação complicada. Médico preocupado. "Fizemos tudo o que a medicina pôde fazer". Uma parte do seu cérebro foi tirada. Ela, então, sobreviveu.

Agora, era com Deus. Essa é a melhor parte.

Quando a vi, depois de tudo isso, seu olhar me interrogava, me desconhecia.
Como se buscasse algum vestígio na memória, ela me analisava. Apertou minha mão. Verificou minhas unhas. Sorriu. Um bálsamo percorreu minhas veias.

Eu não a perdi.
Sua fala ainda não está organizada. Ela me conhece, me abraça. Conversa, à sua maneira. Eu a compreendo. Cantamos juntas. Brincamos de novo de stop. Passo a passo, vamos lembrando as datas de sua vida. Anda normalmente, come como nunca antes. Ouve incrivelmente melhor e até briga mais do que nunca.


Sim, ela é vida. Um milagre que me deixa de boca aberta.Resposta. Convicção.Exceção médica.
E como sempre, ela conseguiu. Ela superou.
E vai continuar assim. Ela não pode negar quem ela é.

Hoje, ela faz 30 anos. Como uma bênção, vamos à sua casa, comemorar,agradecer, chorar e rir ao mesmo tempo. No auge da realização, ela tem vida, hoje. Poderia ser diferente. Mas, Deus quis que ela continuasse aqui. Ou melhor, quis que a morte não fosse maior do que ela.
É bom dizer que dependemos de Deus. Que é por causa dEle que existimos. Que é por que Ele quer que a vida supere a morte. Que é Ele é Deus, e basta!(Klemilda)

Kel.
Você sempre me ensinou sobre vida. Obrigada por isso.

e...Deus,
Obrigada por me ensinar que sempre é Deus.

4 comentários:

  1. Lízia, que impactante esse seu post. Não pude conter as minhas lágrimas, deslizaram sem que eu as percebesse. É qdo a força do homem acaba que Deus entra com o milagre, o sobrenatural. Maior é O que está em nós. A lição de VIDA que vc me trouxe através da VIDA da Kel jamais saíra da minha memória! Comemore a VIDA!

    Beijos,
    Lidiane

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  2. nussa...

    to engasgada...

    caraca... se era pra chorar, acho que o objetivo vai ser alcançado pra todo mundo que vier aqui.

    vc tem o tremendo dom de escrever

    e que história!

    uau...

    desculpa, rs to engasgada ainda.

    beijos
    pra vc e pra Kel

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  3. ei Lízia,

    não sei onde foi parar o comentário onde vc perguntou se a gente faz abstract e revisão...

    a gente faz sim. se vc quiser orçamento essas coisas, me manda um email: helen.vilelaarrobahotmail.com

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  4. Queridas!

    Emoção é verem vcs aqui, comentando etc!

    Ainda não sei direito esse negócio de blog e tal, mas quero a ajuda nobre de minhas companheiras blogueiras. Estou aprendendo...

    Ontem, estive lá e li o texto para os amigos..foi muita emoção também...

    Temos que celebrar a vida, mesmo!

    Obrigada por virem aqui. De coração!


    Beijão


    Lidiane,
    Eu também aprendi muito com tudo isso!


    Helen,
    Hj mesmo vou te mandar um e-mail!Obrigada pela atenção!
    E...na verdade, mandei vários comentários e nenhum deles estão aparecendo!

    Beijocas

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